quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Aquele Adeus =/

 Despedida é sempre muito triste. Vem mansa, em suaves sopros que, lentos como uma dança de amor, jogam nossa sanidade no abismo. E quando nos damos conta, já foi, perdeu-se. Você faz questão de enganar-se, guarda um bilhete escrito às pressas com juras cotidianas que tanto lhe faziam sorrir feito boba pelos quatro cantos da casa, promete olhando-se no espelho esquecer o aroma daquele corpo que a embriagava e a força daqueles braços que a fazia perder-se e descobrir o mundo dos mais belos sonhos - apesar de saber que nada adiantará. Desiste de esquecer, e passa a aguardar ansiosamente um retorno improvável. Deixa tudo exatamente como está, porque sabe como ele gosta de organizar seus livros na escrivaninha e como se irrita quando tira seus discos antigos do lugar em que havia deixado. Todos os dias faz aquela receita que tanto lhe pedia, mas negava por pura preguiça e teimosia. Esse amor te prende. E tu, adorável cativa, permanece enjaulada nesse amor de bom grado, porque sabe que nenhum corpo será como aquele e que nenhum lábio dirá palavras que a completam como os dele. És feliz assim, sinceramente feliz. Esperar é fácil, quase indolor. Difícil é rasgar as páginas do calendário ao final de cada mês com as forças esgotadas, acompanhar uma música de amor em apenas uma voz com uma dor aguda ao final de cada refrão. Deitar todas as noites ouvindo os sussurros da razão dizendo que passará o resto de seus dias na espera. Beber com os amigos para se preencher e sentir apenas mais vazio e chorar a noite inteira sonhos impossíveis que, de tanto esperar, transbordaram e caíram no abismo. Seus ouvidos escutaram o adeus, a mão acenou e a porta fechou, e você fica ali olhando as fotografias - olhar a porta e não ter forças para abri-la e correr a seu encontro dói demais -, parada, tola, esperançosa, com os dedos cruzados esperando que a porta seja aberta e a voz familiar diga que tudo não passou de brincadeira cruel. O relógio caminha em seus ponteiros que apertam a alma, você pergunta-se o que fez de tão errado. As coisas são assim mesmo - decide ao final, apesar de saber que no dia seguinte se perguntará exatamente a mesma coisa com o mesmo olhar entristecido -, as pessoas vão embora assim, ouvindo chamado ou covardia, só nos restando guardar as lembranças e não gastá-las demais por medo de perdê-las. Despedida é sempre muito triste, porque apesar de reconhecer que ela vem, nunca se está preparado para sua chegada.

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